Categoria: Devaneios

Fotografia Documental, uma interpretação do mundo

Decidi falar nesse post sobre uma das categorias da fotografia que mais me interesso, a fotografia documental. Iniciaremos aqui uma conversa sobre a fotografia e suas ramificações estendendo para os próximos posts a apresentação do trabalho de alguns artistas que tem ligação com o documental.

Basicamente podemos dividir a fotografia em 3 grupos principais: a fotografia documental, o fotojornalismo e a fotografia publicitária, mas é claro que essa divisão não é tão clara na prática e os vários campos se correlacionam gerando trabalhos com influencias das mais diversas.

O significado da palavra documental está ligado a todo e qualquer fato que possa servir de prova, confirmação ou testemunho sobre algum tema, que no caso da fotografia documental podem ser os mais diversos: guerra, cotidiano, viagens, divergências sociais, entre tantos outros.

Cada fotógrafo possui uma maneira particular de ver o mundo, fotografar e contar às histórias que passam pelos seus olhos, a fotografia documental é onde isso levado mais a fundo. O trabalho documental consiste em uma pesquisa ou conhecimento prévio do assunto fotografado, tendo como prioridade desenvolver um projeto mais interpretativo e elaborado, e tendo como resultado uma série de fotos ilustram a visão e a interpretação do fotografo sobre o tema abordado.

Sebastião Salgado - Serra Pelada
Sebastião Salgado – Serra Pelada

Mais do que um registro momentâneo o trabalho documental se torna uma real interpretação sobre o tema alvo das fotografias, mesmo sabendo que qualquer fotografia já uma interpretação do mundo real a fotografia documental se torna uma interpretação mais profunda e elaborada.

O trabalho documental na fotografia contemporânea tem seu papel ligado ao documentário imaginário, lugar de sonhos, subjetividade e experimentação de maneira mais direta e aberta, mas mantendo as características de pesquisa e série de imagens que estão presentes no trabalho documental tradicional.

A fotografia documental se torna um trabalho de pesquisa, de denuncia, uma maneira de mostras histórias e visões do mundo, retratar experiências de vida e acima de tudo um exercício de autoconhecimento.

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Arquivo vivo

Fotografia que fiz em 2012 mas acabei me encantando por ela em 2013
Fotografia que fiz em 2012 mas acabei me encantando por ela em 2013

O workflow de qualquer ensaio fotográfico envolve alguns pontos muito importantes, no meu caso criei um pequeno ritual que envolve:
– Retirar os cartões de memória da câmera e guardá-los dentro do estojo protetor.
– Imediatamente chegando ao computador em que trabalho descarregar as fotos e fazer o backup de todo o ensaio sem qualquer edição.
– Trabalhar com a edição e o tratamento das imagens, fazendo backups periódicos.
– Ao fim mantenho o backup dos arquivos originais e do tratamento final.

Mas um fator muito importante passa despercebido nesse workflow, e tem passado despercebido também na vida de todas as pessoas, revisitar esse arquivo fotográfico, seja o arquivo de um fotografo profissional ou o arquivo de fotos que qualquer pessoa mantém em seu computador pessoal.

Nossa memória fotográfica está correndo risco de esquecimento, isso em meio a uma produção como nunca se viu antes. Dados em pesquisa recentemente publicada mostram que o Facebook tem atualmente 250 bilhões de fotos em seu banco de dados, e cresce com uma média de 350 milhões de fotos por dia; ou 14,58 milhões de fotos por hora; ou 243 mil fotos por minuto; ou 4 mil fotos por segundo.

Uma produção ampla que se concentra e se perde nos computadores, arquivos de backup e na rede, imagens fadadas ao esquecimento. O advento da fotografia digital aumentou consideravelmente a quantidade de fotos produzidas durante um ensaio, seja um edital de moda, uma festa, um ensaio autoral ou no simples ato de flanar andando pela rua, mas vamos deixar claro que quem fotografa sem parar é o ser humano e sua compulsão por apertar o botão que faz a foto.

Por isso em meio a esses milhões de milhares de fotos vejo 3 grandes benefícios ao criar o habito de voltar aos arquivos fotográficos:

1 – Aprender com os erros.
O ato de fotografar envolve um aprendizado constante e o arquivo de todos os ensaios produzidos anteriormente proporciona um real entendimento sobre sua evolução técnica e a melhora do seu olhar fotográfico.

2 – Encontrar conceitos e ideias que antes não eram compreendidos.
Eu já perdi a conta de quantas vezes encontrei em meu arquivo fotos que passaram despercebidas na época em que foram feitas, mas que hoje com um olhar mais maduro saltam aos olhos e fazem todo o sentido para mim. Como se inconscientemente eu tivesse fotografado algo que já me agradava, mas na época eu ainda não compreendia o que era.

3 – Dar força para a memória e para as histórias.
Para mim um dos mais importantes atributos ligados a fotografia, transformar o passado em presente e o distante em próximo. Lembrar-se de histórias, pessoas e momentos que foram, mesmo que por um curto espaço de tempo, importantes de alguma maneira.

Feita em 2010, revisitada, tratada e finalizada em 2013
Feita em 2010, tratada e finalizada em 2013

E como o próprio significado da palavra diz arquivo é uma “coleção de qualquer espécie de documentos ou outros materiais … importantes para as instituições civis ou governamentais, ou de valor histórico.” E que mesmo vivendo em um mundo onde o dinamismo e a produção desenfreada são constantes, possamos dar um pouco de atenção para as histórias já escrevemos.

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Consistência fotográfica

Participei na última semana de várias discussões sobre fotografia, a primeira delas com Cristiano Mascaro tema do último post e as outras na 5ª Semana de Fotografia de São Caetano do Sul. O que mais me chamou a atenção é que inconscientemente todas essas discussões trataram, cada uma sua maneira, do mesmo tema, consistência. 

Consistência.
con.sis.tên.cia
sf (lat consistentia) 1 Estado ou qualidade de consistente. 2 Densidade ou coesão entre as partículas da massa de um corpo. 3 Dureza, espessura, fortaleza, solidez. 4 Estado de uma coisa que promete durar ou não ter mudança. 5 Perseverança.

Consistência em relação à fotografia, sua fotografia e a sua produção artística.
Atentemos para o fato de que ser consistente não significa fazer as melhores fotos do mundo sempre, e sim trabalhar o que você tem de melhor dentro do seu estilo, dentro de si. É desenvolver um trabalho genuíno por meio de suas próprias experiências e percepções.

Temos nossas particularidades, pontos fracos e fortes, individualidades que desenham o caminho para o desenvolvimento profissional, ideia já apresentada, utilizada e difundida, por exemplo, pelo professor Johannes Itten em seu ensino na famosa escola de design Bauhaus em 1919.

Consistência.
Seja nas fotografias de paisagens de Ansel Adams, nas mostras do mundo de Steve McCurry e Sebastião Salgado, nos retratos de Annie Leibovitz e Richard Avedon, no fotojornalismo de Robert Doisneau e Robert Capa, uma palavra, um termo, um conceito que eu nunca havia imaginado ter uma ligação tão importante com a fotografia se mostra presente no trabalho desses e de tantos outros.

Foto Steve McCurry
Fotografias Steve McCurry

Consistência que venho há muito buscado, um trabalho que seja realmente verdadeiro e reflita ideias e conceitos que por vezes ainda nem consigo entender. E que todas as pessoas que  tenham uma produção artística de qualquer tipo e estilo tenham a perseverança, coragem e audácia de produzir um trabalho realmente consistente.

Fontes: Livro “A cor no processo criativo. Um estudo sobre a Bauhaus e a teoria de Goethe” de Lilian Ried Miller Barros.

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Criatividade e Yann Tiersen

Ilustração Yann Tiersen

criar 
cri.ar
(lat creare) vtd 1 Dar existência a, tirar do nada.

Do nada surge o todo.
Mas sabemos que a equação não é bem essa, o ato de criar é sim muito trabalhoso. Trabalhoso e gratificante. Um caminho de descoberta, silêncio, questionamento, experimentação, reflexão, erros, erros, erros e alguns acertos. Para mim sempre foi assim, sem receitas prontas, sem certo ou errado, um processo em constante mudança e adquação.

A música sempre está presente nesses momentos, dando ritmo a todas as ideias que surgem  e ajudando manter o foco no que é importante naquele momento. Estudos mostram que a ela traz um sentimento de motivação, ajudando assim na solução de um problema. Nos vemos em um transe que só se explica com o definição do dicionario sobre criar “Dar existência a, tirar do nada”, momento onde todas as pesquisas e ideias ganham forma, onde a criatividade, o lado direito do cérebro, toma conta da situação.

Eu particularmente tenho um compositor que sempre acompanha esses momentos de maior concentração, Yann Tiersen. Para quem ainda não ligou esse cara de nome estranho ao trabalho que produzido por ele posso dizer que ele é conhecido por músicas de dois grandes filmes: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain e Adeus, Lenin!, e acima de tudo é um grande maluco.

yann_tiersen_retrato
Dedicando-se desde muito jovem ao aprendizado de música e a instrumentos musicais, aos 13 anos  o pequeno Yann fez o que qualquer criança normal faria, quebrou seu violino comprou uma guitarra e começou uma banda de rock. Depois de alguns anos a banda acabou e ele começou a gravar músicas solo com um mesa de mixagem barata, foi o primeiro passo para começar a experimentar sem parar, procurando sempre novos sons até chegar ao ponto de mandar arrumar o violino quebrado e começar a criar seus próprios sons para usar nas músicas. Em 1993 ele tinha 40 músicas gravas e lança seus primeiros 2 álbuns.

Um músico com trabalho impressionante, que faz questão de ser parte ativa em todas as etapas do processo criativo de que participa, o que o torna em uma pessoa por vezes tão perfeccionista que acaba tocando vários instrumentos na produção de algum projeto. Sua música se caracteriza por parecer que te pega pela mão e leva por um passeio pela narrativa que ela está conduzindo, em alguns momentos quase como uma experiencia de hipnose. Músicas que passam pelo instrumental mais clássico chegando até a algo com pegada mais rock. Com toda certeza uma ótima trilha para momentos de criação, reflexão, imaginação, produção e seja lá o que mais terminar com “ão” e couber nessa discussão.

Para ilustrar tudo isso nada melhor que uma música simples, cheia de ritmo e com um clipe que reflete essa simplicidade e ritmo.

Fonte: Yann Tiersen

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