Paisagem Submersa e muito mais que isso

Paisagem Submersa, João Castilho, Pedro David e Pedro Motta
Paisagem Submersa, João Castilho, Pedro David e Pedro Motta

Dando continuidade ao post sobre a fotografia documental hoje vamos tentar entender um pouco sobre o documentário imaginário e ver um dos trabalhos mais inspiradores e criativos ligados a esse gênero.

Mas onde o documentário imaginário está inserido no contexto da fotografia documental?

Dividindo o termo nas duas palavras que o compõem primeiramente temos documentário, série de imagens desenvolvidas dentro de um mesmo contexto e com uma pesquisa prévia realizada sobre o assunto fotografado, e temos imaginário, lugar de sonhos, desejos, memórias, inspirações, somado a isso um lugar de experimentação, criatividade e onde o concreto e o não concreto andam juntos.

Toda fotografia já é uma interpretação do mundo feita pelo imaginário de cada fotografo através de suas escolhas técnicas, o que depois se torna uma interpretação do mundo aos olhos do receptor das imagens, interpretação essa relativa às suas experiências de vida, seu conhecimento, seus gostos, enfim variável de pessoas para pessoa.

A fotografia documental contemporânea, incluindo o documentário imaginário, se distancia da fotografia documental clássica e da sua herança mais direta do fotojornalismo, mas mantém em sua raiz o principio mais básico, narrar uma história com fotografias.

Dentro desse contexto existem vários trabalhos, mas gostaria de destacar aqui o projeto Paisagem Submersa (produzido entre 2002 e 2007), dos artistas João Castilho, Pedro David e Pedro Motta, uma vez que as imagens apresentadas por eles me fizeram reparar pela primeira vez as cores do mundo e sua importância para uma narrativa. Basicamente sempre fui, e ainda sou, um apaixonado pelo mundo em preto e branco, o urbano, a arquitetura, o cinza do concreto, e todas as histórias que se desenvolvem nesse contexto tendo como referência artistas como Cristiano MascaroRobert Doisneau e Cartier-Bresson, que tiveram quase todas as suas fotografias realizadas nessa gama de preto, branco e cinzas. Em Paisagem Submersa é impossível não reparar nas cores, mesmo ele não sendo em sua totalidade colorido, e mais do que isso entender que por vezes o branco e preto não é bastante ou ideal.

Paisagem Submersa, João Castilho, Pedro David e Pedro Motta
Paisagem Submersa, João Castilho, Pedro David e Pedro Motta

João Castilho, Pedro David e Pedro Motta registraram um momento de passagem que ocorreu no Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais, onde parte da região teve que ser inundada para a construção da Usina Hidrelétrica de Igarapé. Digo que eles registram um momento de passagem pois acompanharam o cotidiano de algumas famílias atingidas, a demolição de suas casas e a mudança para o novo local onde iriam viver, local esse melhor que o anterior mas que deixa explicito os vários sentimentos que envolviam essa mudança.

Uma narrativa silenciosa, mostrando memórias sendo deixadas para trás, e um exemplo do quão longe pode ir o documentário imaginário.

Fontes: Folha Ilustrada


Renan Tobbias

Um apaixonado por contar histórias através da fotografia.
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