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Menino, muda o mundo

Todos temos certa consciência de tudo que envolve o mundo, imensidão, desigualdade social, produção desenfreada, poluição, grande concentração da população, agressividade, características que se refletem cada vez mais no próprio homem ou o mundo que se torna um reflexo da humanidade com essas características.

O filmeO Menino e o Mundo, de Alê Abreu, trata de tudo isso e muito mais que tudo isso. Uma animação brasileira de produção impecável que partindo de desenhos feitos a mão cria um universo fantástico, rico, emocionante e impossível de esquecer. A simples e grandiosa história do mundo visto aos olhos de uma criança que sai de sua casa em busca do pai.

A relação entre o O Menino e o Mundo se mostra uma grande aventura, cheia de significados, mensagens, metáforas, detalhes, cores, música, e mesmo em meio a tudo isso consegue manter-se simples e inocente como uma criança. Fica evidente o cuidado e a dedicação de todas as pessoas envolvidas, todos os elementos que compõem a narrativa foram muito bem pensados e desenvolvidos fazendo com que nada que aparece na tela esteja lá por acaso.

A técnica aplicada na animação chama muito a atenção, um desenho simples que remete muitas vezes a uma criança desenhando em uma folha em branco, provavelmente a maneira mais sincera de retratar esse universo lúdico a que somos apresentados. Riscos, rabiscos, tintas, texturas, recortes, colagens, o cheiro do papel e a lembrança de o quanto já brincamos isso tudo.

Vídeo da produção da animação mostrando um pouco do processo criativo dos desenhos.

Somado a todas as sensações que animação traz temos a música e os efeitos sonoros, que nesse caso são parte integrante da construção da narrativa. Uma melodia marcante que se apresenta de varias maneiras diferentes durante todo o filme, seja tocada em uma flauta ou cantada por uma multidão de pessoas, acompanha a trajetória desse menino que se torna cada vez mais um amigo. O mesmo cuidado aplicado ao processo do desenho também pode ser visto no som, os efeitos sonoros produzidos pelo grupo de percussão corporal Barbatuques dão ao som uma delicadeza única.

Vídeo sobre a produção dos efeitos sonoros.

Um mundo de lembranças, encontros e perdas, esperança e desilusão, começo, fim e recomeço, tudo desenvolvido sem nenhum dialogo que possamos entender, somente algumas palavras sem sentido sussurradas ao pé do ouvido. E como diz a trilha sonora do filme, não é que esse mundo é grande mesmo.

Trilha sonora: Aos olhos de uma criança – Emicida

Fontes: O menino e o mundo e Filme de Papel

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As caras pintadas dos Secos e Molhados

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Estou mais uma vez aqui colocar em prática a minha paixão pelo design de capas, sejam em livros ou discos, afinal quem nunca comprou um livro pela capa? Hoje vamos voltar 40 anos no tempo e falar um pouco sobre uma das capas mais mais icônicas da história da música brasileira.

De 1973, Secos e Molhados.

Mas afinal, o que define algo ou alguém que se torna um ícone?

Ser diferente, chocar a sociedade, representar os desejos e sonhos de uma geração ou simplesmente estar no lugar certo e na hora certa. Provavelmente uma mistura de isso tudo e outros tantos fatores que não sabemos explicar, querendo ou não vivemos hoje em uma realidade de histórias e heróis que em uma semana se tornam noticia velha.

Surgindo em meio a ditadura militar Secos e Molhados tem como referencia clara o movimento predecessor do Tropicalismo, e em seu disco de estréia também intitulado Secos e Molhados trata de assuntos como a liberdade de expressão, o racismo e a violência, uma das muitas manifestações artísticas que surgiram no período clamando por uma “voz ativa”.

O nome curioso se baseia em um comercio tipico do século XIX, um armazém que vendia um pouco de tudo desde secos: grãos, verduras, pão, passando pelos molhados: azeite e vinho. Uma mistura que refletia exatamente tudo que a banda estava propondo com suas músicas, originadas em parte de poemas de Vinicius de Moraes, Cassiano Ricardo e Manuel Bandeira e seus shows.

secos-e-molhados-2O disco foi um sucesso, tendo a previsão de vendas da gravadora de 1.500 cópias em 1 ano sendo superada em apenas 1 semana, somando no total mais de 1 milhão de cópias vendidas em todo o País.

A autoria da imagem da capa é do fotografo Antônio Carlos Rodrigues, que na época trabalhava no jornal carioca Última Hora, uma imagem simples e impactante onde ele produziu uma mesa de jantar com vários produtos entre Secos e Molhados, incluindo a própria banda.

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E para terminar com um gostinho de 1973, o último parágrafo da primeira faixa do disco.

Rompi tratados,
traí os ritos.
Quebrei a lança,
lancei no espaço:
um grito, um desabafo.
E o que me importa
é não estar vencido.

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