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Arquivo vivo

Fotografia que fiz em 2012 mas acabei me encantando por ela em 2013
Fotografia que fiz em 2012 mas acabei me encantando por ela em 2013

O workflow de qualquer ensaio fotográfico envolve alguns pontos muito importantes, no meu caso criei um pequeno ritual que envolve:
– Retirar os cartões de memória da câmera e guardá-los dentro do estojo protetor.
– Imediatamente chegando ao computador em que trabalho descarregar as fotos e fazer o backup de todo o ensaio sem qualquer edição.
– Trabalhar com a edição e o tratamento das imagens, fazendo backups periódicos.
– Ao fim mantenho o backup dos arquivos originais e do tratamento final.

Mas um fator muito importante passa despercebido nesse workflow, e tem passado despercebido também na vida de todas as pessoas, revisitar esse arquivo fotográfico, seja o arquivo de um fotografo profissional ou o arquivo de fotos que qualquer pessoa mantém em seu computador pessoal.

Nossa memória fotográfica está correndo risco de esquecimento, isso em meio a uma produção como nunca se viu antes. Dados em pesquisa recentemente publicada mostram que o Facebook tem atualmente 250 bilhões de fotos em seu banco de dados, e cresce com uma média de 350 milhões de fotos por dia; ou 14,58 milhões de fotos por hora; ou 243 mil fotos por minuto; ou 4 mil fotos por segundo.

Uma produção ampla que se concentra e se perde nos computadores, arquivos de backup e na rede, imagens fadadas ao esquecimento. O advento da fotografia digital aumentou consideravelmente a quantidade de fotos produzidas durante um ensaio, seja um edital de moda, uma festa, um ensaio autoral ou no simples ato de flanar andando pela rua, mas vamos deixar claro que quem fotografa sem parar é o ser humano e sua compulsão por apertar o botão que faz a foto.

Por isso em meio a esses milhões de milhares de fotos vejo 3 grandes benefícios ao criar o habito de voltar aos arquivos fotográficos:

1 – Aprender com os erros.
O ato de fotografar envolve um aprendizado constante e o arquivo de todos os ensaios produzidos anteriormente proporciona um real entendimento sobre sua evolução técnica e a melhora do seu olhar fotográfico.

2 – Encontrar conceitos e ideias que antes não eram compreendidos.
Eu já perdi a conta de quantas vezes encontrei em meu arquivo fotos que passaram despercebidas na época em que foram feitas, mas que hoje com um olhar mais maduro saltam aos olhos e fazem todo o sentido para mim. Como se inconscientemente eu tivesse fotografado algo que já me agradava, mas na época eu ainda não compreendia o que era.

3 – Dar força para a memória e para as histórias.
Para mim um dos mais importantes atributos ligados a fotografia, transformar o passado em presente e o distante em próximo. Lembrar-se de histórias, pessoas e momentos que foram, mesmo que por um curto espaço de tempo, importantes de alguma maneira.

Feita em 2010, revisitada, tratada e finalizada em 2013
Feita em 2010, tratada e finalizada em 2013

E como o próprio significado da palavra diz arquivo é uma “coleção de qualquer espécie de documentos ou outros materiais … importantes para as instituições civis ou governamentais, ou de valor histórico.” E que mesmo vivendo em um mundo onde o dinamismo e a produção desenfreada são constantes, possamos dar um pouco de atenção para as histórias já escrevemos.

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Descobrindo a cidade com Cristiano Mascaro

Material de divulgação da exposição de 2008 e retrato de Cristiano Mascaro durante a palestra.
Material de divulgação da exposição de 2008 e retrato de Cristiano Mascaro durante a palestra.

Recentemente tive a oportunidade de participar de uma palestra/conversa com o fotografo Cristiano Mascaro, onde ele falou sobre a importância de fotografar a cidade e as oportunidades de descobrimento e surpresas que este ato proporciona.

Em 2008 tive meu primeiro contato com o trabalho do fotografo, a exposição Cristiano Mascaro: todos os olhares feita no Instituto Tomie Ohtake e com curadoria de Agnaldo Farias. O resultado das fotos no então estudante de design e aspirante a fotografo foram maiores do que eu vou conseguir explicar aqui.

Posso fazer isso com a fotografia? Posso usar ela como maneira de comunicar o mundo, a cidade e o cotidiano da maneira como eu vejo? Foram alguns dos questionamentos que me fiz na época e que desde então tenho estudado, praticado e aplicado.

Cristiano Mascaro é paulista, formado em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP, e em seu trabalho é evidente o amor e interesse pela cidade, pelo urbano e todos os seus elementos.

Cristiano Mascaro -Vista Igreja Santa Ifigênia 2003
Cristiano Mascaro, Vista Igreja Santa Ifigênia 2003.

A melhor parte dessas conversas com grandes fotógrafos é conhecer as histórias anteriores a cada fotografia, o processo criativo, erros, acertos, e ter a certeza que nenhum desses grandes nomes estão lá por sorte e sim por fruto de muito, mas muito trabalho. Cristiano Mascaro se mostra 100% dedicado à fotografia, fotografa para seus trabalhos profissionais e aproveita para fazer fotos autorais, fotografa durante as horas vagas como diversão e quando não está fotografando com certeza está pensando ou falando sobre fotografia.

Cristiano Mascaro -Parque de Diversões Votorantim SP 1999
Cristiano Mascaro, Parque de Diversões Votorantim SP 1999.

Um aspecto que ele deixa bem claro é que com o aumento da produção fotográfica ligada a arte contemporânea as fotos tradicionais e trabalho documental não perdem força, ou pelo menos não deveriam perder, e ressalta a importância da preservação da memória. Nunca vão deixar de existir assuntos e temas a serem fotografados na cidade, cabe a cada um que se propõe a isso adaptar-se as mudanças do ambiente urbano, estando preparados para usar limitações como maneira de dar mais força e personalidade ao seu trabalho e ter a sensibilidade de aproveitar as surpresas que a fotografia proporciona.

Fontes: Cristiano Mascaro

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