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Whiplash, dedicação e obsessão

Dedicação 
de.di.ca.ção
sf (lat dedicatione) 1 Ação de dedicar. 2 Qualidade de quem se dedica. 3 Afeto extremo, devoção.

Obsessão
ob.ses.são
sf (lat obsessione) 1 Ato ou efeito de importunar ou vexar. 2 Impertinência excessiva. 3 Preocupação constante; ideia fixa.

Dedicação e Obsessão.

Duas palavras que sintetizam elementos que fazem parte do nosso cotidiano, da nossa vida, de quem somos. Duas palavras que parece que foram feitas para andar juntas.
Sonhos, hobbies, pessoas, ideias, profissões…

O filme Whiplash é exatamente sobre isso.

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Lançado em 2014, ele trata da dedicação não com uma mensagem inspiradora sobre seguir seus sonhos mas de uma maneira visceral e muitas vezes incomoda. O extremo. A face quase doentia de se dedicar tanto a algo a ponto de esquecer todo o resto. Se dedicar de corpo e alma.

Se utilizando da música como linha guia da narrativa Whiplash mostra um aluno, vivido por Miles Teller, determinado a se tornar um grande baterista, na verdade determinado a se tornar um gênio. E um professor, interpretado por J.K. Simmons, muito rígido e opressor, em busca de alguém que esteja disposto a doar tudo que é preciso para se tornar um gênio, um homem que força as pessoas a ultrapassarem seus limites independente dos resultados que esse ato possa trazer.

O mais intrigante é que a primeira vista a relação entre aluno e professor é assustadora mostrando um claro abuso de autoridade, mas os dois personagens são muito parecidos, e a relação acida entre eles é resultado dessa busca por ser o melhor.

O trailer para quem não viu.

Whiplash é um filme fantástico. Uma história simples e arrebatadora que trata de um dos temas mais complexos da nossa sociedade, a necessidade, busca e quase obrigação de ser sempre o melhor. Necessidade essa que é intrínseca ao ser humano nos dias de hoje e nos faz viver varias vezes essa dedicação que pode se tornar uma obsessão.

É estranho isso. Você encontrar algo que gosta e se dedica tanto, que acaba se tornando obcecado por algum parâmetro ou objetivo que você mesmo traçou.

Encontramos na filosofia, no pensamento socrático, a ideia da essência, aquilo que é seu atributo principal, sua razão de ser. Junto a isso o amor, amor que é desejo, desejo que é sempre pelo que falta, pelo que não somos ou pelo que ainda não conseguimos realizar.

Cartazes feitos por artistas que se inspiraram no filme
Cartazes feitos por artistas que se inspiraram no filme

Conversando com um amigo chegamos a conclusão que esse filme tem muito mais significado para quem gosta de música, mas eu simplesmente não consigo olhar para ele com a visão de alguém que não é apaixonado por música, porque sou uma das pessoas batucou na cadeira do cinema durante todas as músicas do filme, e aplaudiu o final como se tivesse acabado de assistir um grande show, não sou o único porque na sala em que assisti todas as pessoas aplaudiram hahahahaha.

Baqueta cheia de marcas de uso que ganhei de um amigo a muitos anos. "Guarde para quando eu for famoso" ele disse e é claro que nem ele seguiu com a música, acabou indo estudar Biomedicina, nem eu que acabei me tornando fotografo.
Baqueta cheia de marcas de uso que ganhei de um amigo com quem tinha uma banda há alguns anos. “Guarde para quando eu for famoso” ele disse, ele não seguiu com a música, acabou indo estudar Biomedicina, nem eu que acabei me tornando fotógrafo.

Whiplash me fez lembrar o quanto a música faz parte do meu ser, das bandas em que toquei baixo durante a adolescência e de como o imaginário musical inspira tudo que eu faço, seja fotografando ou vivendo.

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As caras pintadas dos Secos e Molhados

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Estou mais uma vez aqui colocar em prática a minha paixão pelo design de capas, sejam em livros ou discos, afinal quem nunca comprou um livro pela capa? Hoje vamos voltar 40 anos no tempo e falar um pouco sobre uma das capas mais mais icônicas da história da música brasileira.

De 1973, Secos e Molhados.

Mas afinal, o que define algo ou alguém que se torna um ícone?

Ser diferente, chocar a sociedade, representar os desejos e sonhos de uma geração ou simplesmente estar no lugar certo e na hora certa. Provavelmente uma mistura de isso tudo e outros tantos fatores que não sabemos explicar, querendo ou não vivemos hoje em uma realidade de histórias e heróis que em uma semana se tornam noticia velha.

Surgindo em meio a ditadura militar Secos e Molhados tem como referencia clara o movimento predecessor do Tropicalismo, e em seu disco de estréia também intitulado Secos e Molhados trata de assuntos como a liberdade de expressão, o racismo e a violência, uma das muitas manifestações artísticas que surgiram no período clamando por uma “voz ativa”.

O nome curioso se baseia em um comercio tipico do século XIX, um armazém que vendia um pouco de tudo desde secos: grãos, verduras, pão, passando pelos molhados: azeite e vinho. Uma mistura que refletia exatamente tudo que a banda estava propondo com suas músicas, originadas em parte de poemas de Vinicius de Moraes, Cassiano Ricardo e Manuel Bandeira e seus shows.

secos-e-molhados-2O disco foi um sucesso, tendo a previsão de vendas da gravadora de 1.500 cópias em 1 ano sendo superada em apenas 1 semana, somando no total mais de 1 milhão de cópias vendidas em todo o País.

A autoria da imagem da capa é do fotografo Antônio Carlos Rodrigues, que na época trabalhava no jornal carioca Última Hora, uma imagem simples e impactante onde ele produziu uma mesa de jantar com vários produtos entre Secos e Molhados, incluindo a própria banda.

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E para terminar com um gostinho de 1973, o último parágrafo da primeira faixa do disco.

Rompi tratados,
traí os ritos.
Quebrei a lança,
lancei no espaço:
um grito, um desabafo.
E o que me importa
é não estar vencido.

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O dia em que os Beatles apareceram de bigode

beatles_coverPessoas que gostamos.

Esse conceito simples permeia a criação de umas das capas mais importantes do história do rock e de uma das imagens mais icônicas da cultura pop.

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, 1967, Beatles.

Acho impossível encontrar alguém que não tenha ficado curioso ao ver essa capa, ela é estranha, diferente, encantadora e cheia de mistério.

A fotografia é de autoria de Michael Cooper, o design e a preparação do cenário ficaram sob a responsabilidade de Peter Blake, a ideia era de que eles tivessem acabado de tocar em um show no parque e a capa seria a fotografia do grupo com as pessoas que assistiram ao show. Usando recortes de fotos de pessoas célebres coladas em papelão essa ideia se tornou possível.

Entre o público que virtualmente fez parte dessa foto podemos destacar: Edgar Allan Poe, Bob Dylan, Aldous Huxley, Marilyn Monroe, Karl Marx, Marlon Brando, Oscar Wilde, Lewis Carroll, Albert Einstein, e os nomes continuam por uma longa lista.

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A ideia do eu-lírico dos Beatles, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, foi de Paul Mccartney. Surgiu durante uma viagem em que ele se disfarçou para tentar passar despercebido pelos fãs, nesse momento ele imaginou quanta liberdade os Beatles teriam se eles usassem mascaras.

Sendo essa história verdade ou não, esse conceito criativo acabou não se aplicando a todo o álbum, mas proporcionou o primeiro disco em que os Beatles se dedicaram inteiramente ao estúdio. Um disco cuja três primeiras músicas são somente: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, A Little Help From My Friends e Lucy In The Sky With Diamonds, um álbum cujo conceito e a capa são cheios de mistérios e lendas urbanas, um álbum que me traz um sentimento de nostalgia gigantesco.

Saudades de grandes discos e grandes capas, uma vez que a música e a imagem caminham em paralelo desde que Alex Steinweiss teve a ideia de criar a primeira capa para um disco de vinil. Capa de disco, que nos anos 50 se tornou uma maneira de promover os artista e que nos anos 60 e 70 se tornou parte integrante da cultura pop.

Hoje, na minha visão, elas deram espaço aos vídeos quando falamos em aproximação com o publico, e mesmo com a profusão imensa de informação que temos na internet ainda é possível ver trabalhos que não perderam essa essência da criatividade. Porém é difícil avaliar se daqui a 40 ou 50 anos esses novos trabalhos vão ser sequer lembrados, afinal como já diziam do Titãs, vivemos na época da melhor banda de todos os tempos da última semana.

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Fontes: The Beatles: a história por trás de todas as canções escrito por Steve Turner e a HQ O pequeno livro dos Beatles escrito e ilustrado por Hervé Bourhis

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Criatividade e Yann Tiersen

Ilustração Yann Tiersen

criar 
cri.ar
(lat creare) vtd 1 Dar existência a, tirar do nada.

Do nada surge o todo.
Mas sabemos que a equação não é bem essa, o ato de criar é sim muito trabalhoso. Trabalhoso e gratificante. Um caminho de descoberta, silêncio, questionamento, experimentação, reflexão, erros, erros, erros e alguns acertos. Para mim sempre foi assim, sem receitas prontas, sem certo ou errado, um processo em constante mudança e adquação.

A música sempre está presente nesses momentos, dando ritmo a todas as ideias que surgem  e ajudando manter o foco no que é importante naquele momento. Estudos mostram que a ela traz um sentimento de motivação, ajudando assim na solução de um problema. Nos vemos em um transe que só se explica com o definição do dicionario sobre criar “Dar existência a, tirar do nada”, momento onde todas as pesquisas e ideias ganham forma, onde a criatividade, o lado direito do cérebro, toma conta da situação.

Eu particularmente tenho um compositor que sempre acompanha esses momentos de maior concentração, Yann Tiersen. Para quem ainda não ligou esse cara de nome estranho ao trabalho que produzido por ele posso dizer que ele é conhecido por músicas de dois grandes filmes: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain e Adeus, Lenin!, e acima de tudo é um grande maluco.

yann_tiersen_retrato
Dedicando-se desde muito jovem ao aprendizado de música e a instrumentos musicais, aos 13 anos  o pequeno Yann fez o que qualquer criança normal faria, quebrou seu violino comprou uma guitarra e começou uma banda de rock. Depois de alguns anos a banda acabou e ele começou a gravar músicas solo com um mesa de mixagem barata, foi o primeiro passo para começar a experimentar sem parar, procurando sempre novos sons até chegar ao ponto de mandar arrumar o violino quebrado e começar a criar seus próprios sons para usar nas músicas. Em 1993 ele tinha 40 músicas gravas e lança seus primeiros 2 álbuns.

Um músico com trabalho impressionante, que faz questão de ser parte ativa em todas as etapas do processo criativo de que participa, o que o torna em uma pessoa por vezes tão perfeccionista que acaba tocando vários instrumentos na produção de algum projeto. Sua música se caracteriza por parecer que te pega pela mão e leva por um passeio pela narrativa que ela está conduzindo, em alguns momentos quase como uma experiencia de hipnose. Músicas que passam pelo instrumental mais clássico chegando até a algo com pegada mais rock. Com toda certeza uma ótima trilha para momentos de criação, reflexão, imaginação, produção e seja lá o que mais terminar com “ão” e couber nessa discussão.

Para ilustrar tudo isso nada melhor que uma música simples, cheia de ritmo e com um clipe que reflete essa simplicidade e ritmo.

Fonte: Yann Tiersen

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