Consistência fotográfica

Participei na última semana de várias discussões sobre fotografia, a primeira delas com Cristiano Mascaro tema do último post e as outras na 5ª Semana de Fotografia de São Caetano do Sul. O que mais me chamou a atenção é que inconscientemente todas essas discussões trataram, cada uma sua maneira, do mesmo tema, consistência. 

Consistência.
con.sis.tên.cia
sf (lat consistentia) 1 Estado ou qualidade de consistente. 2 Densidade ou coesão entre as partículas da massa de um corpo. 3 Dureza, espessura, fortaleza, solidez. 4 Estado de uma coisa que promete durar ou não ter mudança. 5 Perseverança.

Consistência em relação à fotografia, sua fotografia e a sua produção artística.
Atentemos para o fato de que ser consistente não significa fazer as melhores fotos do mundo sempre, e sim trabalhar o que você tem de melhor dentro do seu estilo, dentro de si. É desenvolver um trabalho genuíno por meio de suas próprias experiências e percepções.

Temos nossas particularidades, pontos fracos e fortes, individualidades que desenham o caminho para o desenvolvimento profissional, ideia já apresentada, utilizada e difundida, por exemplo, pelo professor Johannes Itten em seu ensino na famosa escola de design Bauhaus em 1919.

Consistência.
Seja nas fotografias de paisagens de Ansel Adams, nas mostras do mundo de Steve McCurry e Sebastião Salgado, nos retratos de Annie Leibovitz e Richard Avedon, no fotojornalismo de Robert Doisneau e Robert Capa, uma palavra, um termo, um conceito que eu nunca havia imaginado ter uma ligação tão importante com a fotografia se mostra presente no trabalho desses e de tantos outros.

Foto Steve McCurry
Fotografias Steve McCurry

Consistência que venho há muito buscado, um trabalho que seja realmente verdadeiro e reflita ideias e conceitos que por vezes ainda nem consigo entender. E que todas as pessoas que  tenham uma produção artística de qualquer tipo e estilo tenham a perseverança, coragem e audácia de produzir um trabalho realmente consistente.

Fontes: Livro “A cor no processo criativo. Um estudo sobre a Bauhaus e a teoria de Goethe” de Lilian Ried Miller Barros.

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Descobrindo a cidade com Cristiano Mascaro

Material de divulgação da exposição de 2008 e retrato de Cristiano Mascaro durante a palestra.
Material de divulgação da exposição de 2008 e retrato de Cristiano Mascaro durante a palestra.

Recentemente tive a oportunidade de participar de uma palestra/conversa com o fotografo Cristiano Mascaro, onde ele falou sobre a importância de fotografar a cidade e as oportunidades de descobrimento e surpresas que este ato proporciona.

Em 2008 tive meu primeiro contato com o trabalho do fotografo, a exposição Cristiano Mascaro: todos os olhares feita no Instituto Tomie Ohtake e com curadoria de Agnaldo Farias. O resultado das fotos no então estudante de design e aspirante a fotografo foram maiores do que eu vou conseguir explicar aqui.

Posso fazer isso com a fotografia? Posso usar ela como maneira de comunicar o mundo, a cidade e o cotidiano da maneira como eu vejo? Foram alguns dos questionamentos que me fiz na época e que desde então tenho estudado, praticado e aplicado.

Cristiano Mascaro é paulista, formado em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP, e em seu trabalho é evidente o amor e interesse pela cidade, pelo urbano e todos os seus elementos.

Cristiano Mascaro -Vista Igreja Santa Ifigênia 2003
Cristiano Mascaro, Vista Igreja Santa Ifigênia 2003.

A melhor parte dessas conversas com grandes fotógrafos é conhecer as histórias anteriores a cada fotografia, o processo criativo, erros, acertos, e ter a certeza que nenhum desses grandes nomes estão lá por sorte e sim por fruto de muito, mas muito trabalho. Cristiano Mascaro se mostra 100% dedicado à fotografia, fotografa para seus trabalhos profissionais e aproveita para fazer fotos autorais, fotografa durante as horas vagas como diversão e quando não está fotografando com certeza está pensando ou falando sobre fotografia.

Cristiano Mascaro -Parque de Diversões Votorantim SP 1999
Cristiano Mascaro, Parque de Diversões Votorantim SP 1999.

Um aspecto que ele deixa bem claro é que com o aumento da produção fotográfica ligada a arte contemporânea as fotos tradicionais e trabalho documental não perdem força, ou pelo menos não deveriam perder, e ressalta a importância da preservação da memória. Nunca vão deixar de existir assuntos e temas a serem fotografados na cidade, cabe a cada um que se propõe a isso adaptar-se as mudanças do ambiente urbano, estando preparados para usar limitações como maneira de dar mais força e personalidade ao seu trabalho e ter a sensibilidade de aproveitar as surpresas que a fotografia proporciona.

Fontes: Cristiano Mascaro

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FotoBienalMASP 2013

Ir no MASP é um dos programas tradicionais dos paulistanos, tarde na Paulista com uma passada pelo Museu de Arte de São Paulo. Fico feliz que pela primeira vez eu tenha visto uma exposição relacionada a fotografia lá.

No último dia 16 de agosto foi aberta ao público a 1ª edição da FotoBienalMASP, organizada por Ricardo Resende em parceria com o MASP.

O foco da exposição é bem claro, mesmo que passando por um caminho não tão claro, ela propõe a discussão da fotografia em aspectos diferentes de seu uso e linguagem tradicionais. Reunindo 35 artistas entre brasileiros e estrangeiros com o objetivo de mostrar varias aplicações da fotografia como arte contemporânea, seja em sua apresentação final, o uso de performance e vídeo ou em conceitos que se abstraem do ato de fotografar.

Entre os trabalhos expostos alguns me chamaram muito a atenção, principalmente duas performances em vídeo com uma capacidade incrível de atrair olhares e desenvolver um discurso muito consistente.

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Palomo, trabalho de Berna Reale

O primeiro deles é “Palomo”, da artista visual e performer paraense Berna Reale. Um trabalho que traz a reflexão sobre a violência e a autoridade, temas que ganharam mais força e significado com os protestos recentes que aconteceram e acontecem no Brasil. Mesmo sendo uma obra silenciosa, onde só se ouvem os passos do animal, a imagem do cavalo vermelho marchando pela cidade sendo montado por um humano usando fucinheira no rosto se tornou tão forte e cheia de significado que é possível sentir pelo vídeo toda a autoridade, agressividade e medo provenientes dessa marcha.

O segundo é o projeto “Mentira Repetida” de Rodrigo Braga, cujos trabalhos anteriores que eu tive contato sempre me chamaram a atenção pelas discussões e conceitos desenvolvidos e intrínsecos a qualquer ser humano, mesmo que por muitas vezes me deixem meio chocado.

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Mentira Repetida, de Rodrigo Braga

Os gritos de Rodrigo no vídeo são ouvidos de longe durante a visitação à exposição, e ao dar de cara com o trabalho o choque inicial é inevitável e atinge cada pessoa de uma maneira particular. Uma concepção simples, o artista em meio a uma mata liga a câmera, coloca-se na frente dela, e começa a gritar. Os gritos se repetem, e se repetem, e se repetem, e a cada grito é possível ver mais entrega, e a cada grito é possível ver mais angustia, e cada grito é possível ver todas as forças sendo usadas e exauridas, e a cada grito é possível se identificar mais com esse trabalho, afinal todos tem seus gritos guardados, trancados e escondidos no peito.

A FotoBienalMasp estará no MASP até 03 de novembro de 2013, e quem estiver de bobeira na Paulista como eu estava vá que não vai se arrepender.
Mais informações sobre a exposição no site do MASP

Fontes: MASP, Rodrigo Braga e Icônica

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O dia em que os Beatles apareceram de bigode

beatles_coverPessoas que gostamos.

Esse conceito simples permeia a criação de umas das capas mais importantes do história do rock e de uma das imagens mais icônicas da cultura pop.

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, 1967, Beatles.

Acho impossível encontrar alguém que não tenha ficado curioso ao ver essa capa, ela é estranha, diferente, encantadora e cheia de mistério.

A fotografia é de autoria de Michael Cooper, o design e a preparação do cenário ficaram sob a responsabilidade de Peter Blake, a ideia era de que eles tivessem acabado de tocar em um show no parque e a capa seria a fotografia do grupo com as pessoas que assistiram ao show. Usando recortes de fotos de pessoas célebres coladas em papelão essa ideia se tornou possível.

Entre o público que virtualmente fez parte dessa foto podemos destacar: Edgar Allan Poe, Bob Dylan, Aldous Huxley, Marilyn Monroe, Karl Marx, Marlon Brando, Oscar Wilde, Lewis Carroll, Albert Einstein, e os nomes continuam por uma longa lista.

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A ideia do eu-lírico dos Beatles, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, foi de Paul Mccartney. Surgiu durante uma viagem em que ele se disfarçou para tentar passar despercebido pelos fãs, nesse momento ele imaginou quanta liberdade os Beatles teriam se eles usassem mascaras.

Sendo essa história verdade ou não, esse conceito criativo acabou não se aplicando a todo o álbum, mas proporcionou o primeiro disco em que os Beatles se dedicaram inteiramente ao estúdio. Um disco cuja três primeiras músicas são somente: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, A Little Help From My Friends e Lucy In The Sky With Diamonds, um álbum cujo conceito e a capa são cheios de mistérios e lendas urbanas, um álbum que me traz um sentimento de nostalgia gigantesco.

Saudades de grandes discos e grandes capas, uma vez que a música e a imagem caminham em paralelo desde que Alex Steinweiss teve a ideia de criar a primeira capa para um disco de vinil. Capa de disco, que nos anos 50 se tornou uma maneira de promover os artista e que nos anos 60 e 70 se tornou parte integrante da cultura pop.

Hoje, na minha visão, elas deram espaço aos vídeos quando falamos em aproximação com o publico, e mesmo com a profusão imensa de informação que temos na internet ainda é possível ver trabalhos que não perderam essa essência da criatividade. Porém é difícil avaliar se daqui a 40 ou 50 anos esses novos trabalhos vão ser sequer lembrados, afinal como já diziam do Titãs, vivemos na época da melhor banda de todos os tempos da última semana.

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Fontes: The Beatles: a história por trás de todas as canções escrito por Steve Turner e a HQ O pequeno livro dos Beatles escrito e ilustrado por Hervé Bourhis

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Poder Megazord Ligado! Quer dizer… Pacific Rim!

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Pacific Rim, ou Circulo de fogo como foi traduzido aqui no Brasil, é o novo filme de Guillermo del Toro (O Labirinto do Fauno  e Hellboy). Não vou mentir e dizer que é um filme que vai mudar a vida de alguém, ele não vai mesmo, mas é honesto e cumpre muito bem o seu papel de ser um filme de ação e aventura, feito com o intuito de divertir e fazer quem está assistindo se agarrar a poltrona por causa da tensão.

Alguns segundos de filme já mostram os efeitos especiais que estão por vir, o primeiro dos vários motivos que tornam esse filme bom, e por mais que você tenha ido ao cinema sabendo que vai ver um filme cujo diferencial são os efeitos e a ideia de mostrar embates épicos entre robôs e monstros gigantescos o primeiro contato com o filme é uma grata surpresa, e deixa qualquer um de boca aberta. O roteiro é bem fechado, uma história simples, bem desenvolvida, e vamos voltar logo aos robôs e monstros gigantes!

Eu não sou grande fã de filmes em 3D, na verdade sempre que possível opto pela versão 2D, mas a imersão que esse filme traz, muito graças ao 3D, é algo que eu nunca tinha vivenciado antes me fazendo em vários momentos tentar controlar os robôs junto com os atores do filme. Não sei dizer que partes do filme tinham ou não tinham o uso da tecnologia, a aplicação foi tão bem feita e tão orgânica que pela primeira vez tive a real sensação de realidade aumentada.

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Fica clara a importância de del Toro em relação a direção de arte, característica marcante em todos os seus filmes, podemos ver de maneira clara como cada robô e monstro tem personalidade e identidade únicas, que se apresentam visualmente e também na maneira como eles se movimentam e interagem entre si. Del Toro cita como referência visual obras como a famosa xilogravura japonesa “A Grande Onda de Kanagawa” de Katsushika Hokusai e a pintura “El Colosso” do pintor espanhol Francisco Goya.

Como um admirador da cultura japonesa e da cultura pop em geral esse filme é um choque de nostalgia para mim, referencias e trabalhos que tratavam de temas parecidos não paravam de surgir na mente a todos os momentos. A semelhança com anime e manga Evangelion (e outros tantos que envolvem a ideia de um mecha, um robô gigante controlado por um piloto) é clara, mas não se restringe a isso. Assistindo ao filme é impossível não lembrar seres gigantes destruindo cidades de isopor e papelão como em Godzilla, de Ultraman, Power Rangers, e ver essas cenas agora tão bem feitas traz a memória tantas lutas imaginarias que travei frente a TV quando era criança.

Acabei associando o filme com mais duas obras, o manga e anime Shingeki no Kyojin  que  a sua maneira também trata de como a humanidade reagiria ao ser atacada por monstros gigantes. Aqui do Brasil o HQ Monstros de Gustavo Duarte publicado em 2012 pela Cia das Letras, que fiz questão de ler novamente antes de ir ao cinema para já entrar no clima.

pacif_rim_montagemNeon Genesis Evangelion (1995), Shingeki no Kyojin (2009), Monstros (2012) e Godzilla (1954).

Pacific Rim é um ótimo filme de ação e aventura, melhor ainda para quem cresceu em contato com referencias dos seriados e da cultura japonesa, e é preciso levar em conta que existem poucas coisas mais BADASS que um robô gigante usando um navio como arma para bater em um monstro que está destruindo a cidade.

Advertência: esse post foi escrito com um nível de adrenalina e nostalgia acima do normal!

Fontes: Livro Cultura Pop Japonesa organizado por Sonia B. Luyten, IMDB e Pacific Rim

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