Fotografia Documental, uma interpretação do mundo

Decidi falar nesse post sobre uma das categorias da fotografia que mais me interesso, a fotografia documental. Iniciaremos aqui uma conversa sobre a fotografia e suas ramificações estendendo para os próximos posts a apresentação do trabalho de alguns artistas que tem ligação com o documental.

Basicamente podemos dividir a fotografia em 3 grupos principais: a fotografia documental, o fotojornalismo e a fotografia publicitária, mas é claro que essa divisão não é tão clara na prática e os vários campos se correlacionam gerando trabalhos com influencias das mais diversas.

O significado da palavra documental está ligado a todo e qualquer fato que possa servir de prova, confirmação ou testemunho sobre algum tema, que no caso da fotografia documental podem ser os mais diversos: guerra, cotidiano, viagens, divergências sociais, entre tantos outros.

Cada fotógrafo possui uma maneira particular de ver o mundo, fotografar e contar às histórias que passam pelos seus olhos, a fotografia documental é onde isso levado mais a fundo. O trabalho documental consiste em uma pesquisa ou conhecimento prévio do assunto fotografado, tendo como prioridade desenvolver um projeto mais interpretativo e elaborado, e tendo como resultado uma série de fotos ilustram a visão e a interpretação do fotografo sobre o tema abordado.

Sebastião Salgado - Serra Pelada
Sebastião Salgado – Serra Pelada

Mais do que um registro momentâneo o trabalho documental se torna uma real interpretação sobre o tema alvo das fotografias, mesmo sabendo que qualquer fotografia já uma interpretação do mundo real a fotografia documental se torna uma interpretação mais profunda e elaborada.

O trabalho documental na fotografia contemporânea tem seu papel ligado ao documentário imaginário, lugar de sonhos, subjetividade e experimentação de maneira mais direta e aberta, mas mantendo as características de pesquisa e série de imagens que estão presentes no trabalho documental tradicional.

A fotografia documental se torna um trabalho de pesquisa, de denuncia, uma maneira de mostras histórias e visões do mundo, retratar experiências de vida e acima de tudo um exercício de autoconhecimento.

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Peixes e Homens – parte 1

O que eu acho mais divertido sobre as crianças, e que tento manter um pouco até hoje, é a criatividade abundante, a habilidade que só elas têm de viver em um mundo lúdico, com suas brincadeiras, seus sonhos e suas fantasias.

Em uma entrevista do escritor uruguaio Eduardo Galeano para o documentário Sangue Latino, ele apresenta uma história sobre essa realidade em que as crianças vivem:
“(…) eu cruzei com uma menina, muito nova, devia ter uns dois anos, não mais que dois anos, que vinha brincando no sentido contrário e ela vinha cumprimentando a graminha, as plantinhas “bom dia graminha”, dizia: “bom dia graminha”. Nessa idade somos todos pagãos, somos todos poetas, depois o mundo se ocupa de apequenar nossa alma e é isso que chamamos de crescimento, desenvolvimento.”

Peixes e Homens foi inspirado por certezas que eu tinha quando era uma criança, apresentei as ilustrações para a grande amiga Renata Minholi e ela foi muito simpática em abraçar a ideia e escrever pequenas histórias, ou uma grande história sem fim, sobre o que eu estava querendo demonstrar.

Um trabalho feito por ela e por mim como uma tentativa de ver o mundo novamente como crianças. No total são 4 textos e imagens, 2 seguem nesse post e os 2 últimos no post da próxima semana.

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Flanar e Robert Doisneau

robert_doisneau_01Comentei no último post, arquivo vivo, um pouco sobre o ato de flanar e sua importância para a fotografia, mas o que exatamente quer dizer flanar?

Flanar
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Caminhar sem destino certo. Andar sem rumo, de modo ocioso, sem coisas com as quais se preocupar: precisava sair sem rumo, simplesmente, flanando. (Etm. do francês: flanêr)

Flanar é o ato mais simples da fotografia, e provavelmente o primeiro passo de muito fotógrafos. Consiste em pegar uma câmera e sair por ai buscando o que fotografar: lugares, pessoas, histórias, aquilo que inquieta e atrai o olhar. (É também o que inspirou o nome desse blog)

Mais do que fotografar, flanar é estudar, é conhecer a fundo tudo o que permeia a fotografia, é aprender a fotometrar, é entender a importância da composição, é buscar a luz, é desenvolver o olhar, é observar o mundo se aproveitando do que este proporciona e, por fim, chega a se tornar um exercício de autoconhecimento.

Quando falo sobre fotografar a rua, fotografar o cotidiano, eu não posso deixar de falar de Robert Doisneau, um dos fotógrafos cujas fotos eu não consigo cansar olhar e admirar.

Doisneau foi um fotografo francês apaixonado por registrar a rua e as coisas simples da vida, uma pessoa com a habilidade sem igual de observar e registrar o cotidiano de maneira linda e espontânea, como se as imagens aparecessem naturalmente a sua frente. Ele sempre soube lidar com o inesperado que flanar proporciona e com suas fotos nos transforma em observadores da realidade em que ele vivia.

Uma referência sobre como ver o mundo, e uma lembrança de sempre manter os olhos abertos.
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robert_doisneau_04“As maravilhas da vida cotidiana são tão emocionantes. Nenhum diretor de filmes pode organizar o inesperado que você encontra na rua”. Robert Doisneau.

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Arquivo vivo

Fotografia que fiz em 2012 mas acabei me encantando por ela em 2013
Fotografia que fiz em 2012 mas acabei me encantando por ela em 2013

O workflow de qualquer ensaio fotográfico envolve alguns pontos muito importantes, no meu caso criei um pequeno ritual que envolve:
– Retirar os cartões de memória da câmera e guardá-los dentro do estojo protetor.
– Imediatamente chegando ao computador em que trabalho descarregar as fotos e fazer o backup de todo o ensaio sem qualquer edição.
– Trabalhar com a edição e o tratamento das imagens, fazendo backups periódicos.
– Ao fim mantenho o backup dos arquivos originais e do tratamento final.

Mas um fator muito importante passa despercebido nesse workflow, e tem passado despercebido também na vida de todas as pessoas, revisitar esse arquivo fotográfico, seja o arquivo de um fotografo profissional ou o arquivo de fotos que qualquer pessoa mantém em seu computador pessoal.

Nossa memória fotográfica está correndo risco de esquecimento, isso em meio a uma produção como nunca se viu antes. Dados em pesquisa recentemente publicada mostram que o Facebook tem atualmente 250 bilhões de fotos em seu banco de dados, e cresce com uma média de 350 milhões de fotos por dia; ou 14,58 milhões de fotos por hora; ou 243 mil fotos por minuto; ou 4 mil fotos por segundo.

Uma produção ampla que se concentra e se perde nos computadores, arquivos de backup e na rede, imagens fadadas ao esquecimento. O advento da fotografia digital aumentou consideravelmente a quantidade de fotos produzidas durante um ensaio, seja um edital de moda, uma festa, um ensaio autoral ou no simples ato de flanar andando pela rua, mas vamos deixar claro que quem fotografa sem parar é o ser humano e sua compulsão por apertar o botão que faz a foto.

Por isso em meio a esses milhões de milhares de fotos vejo 3 grandes benefícios ao criar o habito de voltar aos arquivos fotográficos:

1 – Aprender com os erros.
O ato de fotografar envolve um aprendizado constante e o arquivo de todos os ensaios produzidos anteriormente proporciona um real entendimento sobre sua evolução técnica e a melhora do seu olhar fotográfico.

2 – Encontrar conceitos e ideias que antes não eram compreendidos.
Eu já perdi a conta de quantas vezes encontrei em meu arquivo fotos que passaram despercebidas na época em que foram feitas, mas que hoje com um olhar mais maduro saltam aos olhos e fazem todo o sentido para mim. Como se inconscientemente eu tivesse fotografado algo que já me agradava, mas na época eu ainda não compreendia o que era.

3 – Dar força para a memória e para as histórias.
Para mim um dos mais importantes atributos ligados a fotografia, transformar o passado em presente e o distante em próximo. Lembrar-se de histórias, pessoas e momentos que foram, mesmo que por um curto espaço de tempo, importantes de alguma maneira.

Feita em 2010, revisitada, tratada e finalizada em 2013
Feita em 2010, tratada e finalizada em 2013

E como o próprio significado da palavra diz arquivo é uma “coleção de qualquer espécie de documentos ou outros materiais … importantes para as instituições civis ou governamentais, ou de valor histórico.” E que mesmo vivendo em um mundo onde o dinamismo e a produção desenfreada são constantes, possamos dar um pouco de atenção para as histórias já escrevemos.

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