Solidão transitante é um projeto fotográfico que se tornou um reflexo.
Surgiu de um dia no transito, de um olhar pelo retrovisor e a visão de varias pessoas na mesma situação, a primeira imagem mais a frente ilustra essa constante presente na vida de cada um. Digo que se tornou um reflexo porque mostra momentos passam por nossos olhos todos os dias, mas que por vezes nem sequer reparamos. Um reflexo sobre o dinamismo, sobre o fluxo e acima de tudo sobre a vida em uma grande metrópole. Um ensaio fotográfico pautado pelos recortes que a vista de dentro de um carro proporciona, com o intuito de mostrar como a relação entre homem, carro e cidade tende a solidão.
“Se vou para frente… Coisas ficam para traz … A gente só nunca sabe… que coisas são essas.” trecho do texto Amém, de autoria de Fernando Anitelli, que se tornou parte integrante do projeto servindo como linha guia para a narrativa e ajudando a ilustrar as ideias apresentadas.
Amém
Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário
Letras, lados, lestes
O relógio de pulso pula de uma mão para outra e na verdade… ]
[ nada muda
A criança que me pediu dez centavos é um homem de idade ]
[ no meu retrovisor
A menina debruçando favores toda suja
É mãe de filhos que não conhece
Vendeu-os por açúcar
Prendas de quermesse
A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele
E nesse tráfego acelero o que posso
Acho que não ultrapasso e quando o faço nem noto
O farol fecha…
Outras flores e carros surgem em meu retrovisor
Retrovisor é passado
É de vez em quando… do meu lado
Nunca é na frente
É o segundo mais tarde… próximo… seguinte
É o que passou e muitas vezes ninguém viu
Retrovisor nos mostra o que ficou; o que partiu
O que agora só ficou no pensamento
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas
Mostra as ruas que escolhi… calçadas e avenidas
Deixa explícito que se vou para frente
Coisas ficam para trás
A gente só nunca sabe… que coisas são essas
Todas as fotos do projeto aqui no site:
Solidão Transitante
É ao contrário. É uma solidão que parece que vem de fora pra dentro, vem do ar, do sinal vermelho, do barulho dos carros e do vento passando mais rápido que nós mesmos. Somos tão afetados por tantos elementos ao mesmo tempo que nem mesmo fechando a janela podemos nos sentir, nos ouvir.
É uma solidão que vem de fora, entra pela janela, pela porta e senta no banco ao nosso lado.
É meio assustador, principalmente essa imagem que você descreveu sobre a solidão sentada no banco ao nosso lado.
A cada nova foto eu sempre me perguntava se esse mundo é um reflexo do homem ou se o homem se tornou reflexo do mundo.
Acredito que o homem faz do mundo um lugar solitário. A cada movimento, a cada respiração, adicionamos um pouco mais de solidão ao todo. O que não nos damos conta é que o mundo nos envia essa solidão de volta numa proporção muito maior e mais cruel. E não fazemos nada quanto a isso, ou pior, permitimos que isso aconteça.
Esse homem é um ser estranho mesmo.